A série, assim como Game of Thrones, ensina muito a
linha de que não se pode apegar a nenhum personagem. Por mais importante
que ele seja, por mais carismático que ele seja, estará sempre na linha
de tiro.
Ao longo dos episódios, Robert Kirkman e Frank Darabont
foram nos mostrando isso. A lista de quem morreu e deixou milhares,
milhões de fãs viúvos é extensa. E tem gente na formação atual que
causaria a mesma comoção.
Daryl é um deles. E, ao contrário de outros, um cara
que tem o futuro completamente aberto. Simplesmente porque ele não
existe nos quadrinhos. Não existe um roteiro sobre Daryl que já esteja
escrito. É evidente que os dois universos, que são ligados, já mostraram
desfechos diferentes para alguns personagens. Mas, depois de aparecer
estampado nas páginas da revista, é evidente que todo mundo vai esperar
que aquilo, um dia, seja transferido para a tela da televisão.
Daryl é um caso à parte em The Walking Dead. O próprio Kirkman já
admitiu que nunca imaginou que o sujeito fosse ficar tão popular. Por
causa disso, até, a participação dele na série foi ganhando relevância. O
rebelde sem causa arrebatou o coração de muita gente, e parece
impensável imaginar o seriado sem ele, daqui para a frente.
A ponto de Kirkman também dizer que não existe a mínima necessidade de inventá-lo no gibi. “Seria estranho pegar um elemento da série de TV e enfiá-lo nos quadrinhos só porque ele é popular”,
disse. E tem razão. A franquia tem esse poder, de existir em dois
universos diferentes, e a partir do momento que um mostra poder existir
sem o outro, sempre respeitando uma coerência que os conecta, pra que
querer aproveitar o sucesso de um no outro?
Glenn é outro cara que habita a mente das pessoas.
Outro cara que cresceu demais no gosto de alguns fãs, que não cogitam a
possibilidade de perdê-lo. Mas um cara que tem uma definição de futuro,
já, no produto impresso. Sem entrar em mais detalhes, mas será que ele,
por ter construído uma posição de respeito e, até certo ponto,
necessidade para alguns, poderia entrar na lista de quem teve vida
diferente na produção cinematográfica?
Há uma corrente que não ligue muito para Glenn. Gente que não
sentiria a falta dele. Há, inclusive, quem defenda que o relacionamento
dele com Maggie, na série, esfriou justamente por causa disso. Os dois
continuam trocando declarações de amor, mas, convenhamos, nada parecido
com o que pôde ser visto em episódios anteriores. Uma vez em que o cara
não mantém mais tanto esse vínculo com ela, o que prende, sim, a atenção
de muita gente, fica mais fácil lidar com o adeus dele.
A lista, da mesma maneira, é grande. Carol, Carl, Michonne… Alguns que ocupem o “segundo escalão”, comoSasha, Abraham, Rosita, o padre Gabriel…
Todos, porém, importantes para a trama. Todos com personalidades
marcantes, que contribuem ativamente para os acontecimentos, que podem –
e até devem – continuar presentes no dia a dia. Mas Lori, Shane, Hershel, Bob, Tyrese e Noah também não poderiam?
Outro dia, em um show de comédia dos Estados Unidos, foi pedido para
que Kirkman desse um spoiler FALSO sobre o futuro próximo de The Walking
Dead. O produtor, com muito bom-humor, mandou esta: “Bom,
eventualmente, um personagem chamado Negan vai ser introduzido à série, e
ele vai esmagar o cérebro de Glenn usando um taco de beisebol chamado
Lucille.”
Todo mundo misturou uma expressão de pavor com alguns risos. E Kirkman fez questão de “acalmar” todos:“Calma, pessoal! Isto aqui é um programa de comédia!”
O produtor mostra, aí, que sabe o que pode ou deve acontecer. Mas, ao
mesmo tempo, deixa bem claro que o universo da série de TV está
completamente aberto, e ele pode criar histórias da maneira que as
pessoas envolvidas achem conveniente. E, comercialmente, alguns padrões
podem ser seguidos, sim. Da mesma maneira que possa ser impensável pôr
fim à trajetória de Rick, o mesmo pode se aplicar aos demais. Por que
não?
Mundos paralelos de séries e quadrinhos ou livros podem ser muito diferentes. “Under the Dome”
é um exemplo disso. A ponto de seu idealizador, Stephen King, se ver
obrigado a postar um texto em seu site oficial dizendo que os produtores
de TV apenas pegaram a ideia da coisa para jogar na tela, mas que o
resultado final é completamente diferente daquilo que ele colocou no
papel, e se transformou em um dos livros mais vendidos da história dos
EUA. O autor chegou a pedir desculpas para os fãs, tamanha a diferença
entre as duas obras.
The Walking Dead tem vida própria na TV e nos quadrinhos. Há quem
acompanhe os dois, e fique decepcionado quando um não segue o outro. É
natural, todo mundo tem sua preferência, tem seu instinto
tradicionalista. Há quem acompanhe os dois e não ligue que decisões
diferentes sejam tomadas. Existe uma graça nisso, e há de se aproveitar.
Há quem acompanhe apenas os quadrinhos, e esteja reticente em começar a assistir a série, ou vice-versa.
O importante, aqui, é aproveitar a escolha que se faz. E estar
preparado para as perdas. Se até na vida real temos de lidar com elas,
não seria diferente na ficção.
The Walking Dead, a história de drama mais assistida da TV a cabo, irá retornar com a sexta temporada em Outubro de 2015 na AMC e na FOX Brasil. O trailer da temporada, bem como a data oficial de lançamento, será divulgada durante a Comic Con de San Diego em Julho.
Fonte /// Walking Dead Br